domingo, 9 de fevereiro de 2014

Gilberto Freyre, em Casa Grande e Senzala, registra a atração dos senhores de
engenho pela negras escravas e defende que a miscigenação, associada ao clima tropical, dava às mulheres uma exacerbada sensualidade.Vimos também em Freyre como as mulheres negras(escravas) eram tratadas no sentido de posse e  como mercadorias  pelos seus senhores tinham que atender aos seus caprichos.
Uso como exemplo os comerciais de cerveja os meios de comunicação sobrevivem graças ao interesse que despertam esses comerciais,o apelo que fazem da sensualidade feminina a impressão que passam de consumo não só da cerveja como também da mulher.Um  certo sentimento de propriedade.
Por este motivo em alguns países como Dinamarca e Estados Unidos os comerciais de cerveja foram banidos, pois   com o posicionamento da mulher contemporânea na sociedade e no mercado de trabalho propagandas desse tipo podem denegrir a imagem feminina.

O samba e a identidade brasileira.

Pra que discutir com Madame
Madame diz que a raça não melhora
Que a vida piora por causa do samba,
Madame diz o que samba tem pecado
Que o samba é coitado e devia acabar,
Madame diz que o samba tem cachaça, mistura de raça, mistura de cor,
Madame diz que o samba democrata, é música barata sem nenhum valor,
Vamos acabar com o samba, madame não gosta que ninguém sambe
Vive dizendo que samba é vexame
Pra que discutir com madame.
No carnaval que vem também concorro
Meu bloco de morro vai cantar ópera
E na Avenida entre mil apertos 
Vocês vão ver gente cantando concerto
Madame tem um parafuso a menos
Só fala veneno meu Deus que horror
O samba brasileiro democrata
Brasileiro na batata é que tem valor.

Compositores: Haroldo Barbosa e Janet de Almeida

A letra dessa música tem por objetivo demonstrar que no Brasil nunca existiu “democracia racial” e que uma parcela do povo brasileiro, mais conhecido como burguesia, acreditava que elementos ligados a cultura negra como samba e mistura de raças deveriam ser renegados, esquecidos, pois não acrescentavam nada ao enriquecimento da cultura brasileira. Quando o autor usa o termo “Madame” refere-se a essa parcela da elite brasileira que acreditava que elementos da tradição do  povo negro eram ruins, não possuíam um papel positivo na vida e cultura do povo brasileiro. Essas ideias foram abordadas nas obras de alguns autores a exemplo de Oliveira Vianna, Sérgio Buarque de Holanda, entre outros .
Em sua obra, Sérgio Buarque de Holanda expunha como os problemas nacionais tiveram origem. Ele descreveu o brasileiro como “homem cordial”, e dizia que suas ações eram baseadas no sentimento, que o mesmo agia pela emoção, que gostaria de ser tratado como pessoa e não como indivíduo. Holanda acreditava que a causa da desorganização social existente no país era consequência, dentre outras coisas, da miscigenação da população brasileira, pois segundo ele o Brasil foi colonizado por portugueses que se envolveram com outras raças, como a princípio índios e posteriormente negros e que essa mistura prejudicou a formação da identidade nacional, que era completamente oposta à identidade europeia, que era vista como ideal.
A partir dessa análise pode-se constatar que o samba, por ter sua origem na cultura popular, foi durante muito tempo menosprezada pela conservadora elite brasileira, pois trazia elementos que  eram opostos a cultura europeia e aceitar o samba como elemento da cultura do Brasil, seria para essa elite reconhecer a inferioridade  e o atraso  do país com relação as demais nações.

O malandro Zé carioca






O autor Roberto da Matta ressalta o jeitinho do brasileiro e a malandragem, de se livrar muitas vezes, de compromissos, de não cumprir normas. Ele cita três exemplos: Estados Unidos, França e Inglaterra, onde as regras são obedecidas ou não existem, porque eles acreditam que burlar regras, estão apenas abrindo caminho para a corrupção burocrática e ampliando a desconfiança no poder público. Nessas sociedades a lei não é feita para explorar o cidadão ou como instrumento para corrigir a sociedade, mas para que ela funcione bem.                         


Ninguém mais do que o Zé Carioca personagem inspirada no estereótipo do malandro que com o seu jeitinho se dá bem nas situações que cria.
A malandragem é considerada como um recurso de esperteza utilizado por indivíduos de pouca influência social, porém, não impede de ser utilizada também por indivíduos bem posicionados socialmente.
A malandragem é definida como um conjunto de artimanhas utilizadas para se obter vantagem em determinada situação muitas vezes até ilícitas .Sua execução exige destreza, carisma, lábia e quaisquer características que permitam a manipulação de pessoas de forma a conseguir resultados de maneira mais fácil contradizendo argumentação lógica e a honestidade.
Não existe uma teoria da malandragem que sustente e justifique esse comportamento típico. A postura e a atitude do malandro é retratada principalmente pelas artes.
O jeito de ser e de se vestir dos malandros como estereótipos são diversos como:
Aladim, vadio e arruaceiro, possuidor de uma lâmpada mágica;  Azambuja, típico malandro carioca interpretado por Chico Anísio; Pedro Malasartes, personagem do folclore popular, que conta apenas com sua própria malandragem para manipular gente mais privilegiada e conseguir  algum conforto na vida; Pica-pau, personagem do desenho animado que vive querendo levar vantagem em tudo; Robin Hood, um fora da lei, que roubava dos ricos para dar aos pobres, entre outros.
A malandragem configura-se quando o sujeito abdica e mesmo escarnece de suas funções e obrigações sociais. O malandro muitas vezes é rotulado como preguiçoso, vagabundo, inútil...
O estereótipo da malandragem foi capaz de influenciar não apenas a cultura brasileira como também a de outros países.


sábado, 8 de fevereiro de 2014

De onde vem o jeitinho brasileiro de ser?

Por que somos malandros
Aconteceu em 1943, após uma visita de Walt Disney ao Brasil, como parte da política de “boa vizinhança” dos EUA que visava reforçar os laços com os sul- americanos durante a 2a Guerra Mundial. Naquele ano, Pato Donald apresentaria um novo companheiro no filme Alô, Amigos: seu nome era Joe Carioca, para os americanos, ou Zé Carioca, para os brasileiros, um simpático e falante papagaio. Dali em diante, a imagem do brasileiro se firmava como a de uma espécie de bon vivant tropical, cheio de ginga, que não se adaptava a empregos formais e vivia de “bicos”.
Mas, muitos anos antes de ganhar o mundo, a figura típica do “bom malandro” já estava presente no imaginário do Brasil. A antropóloga Lilia Schwarcz, pesquisadora do tema, diz que o advento do malandro está vinculado à questão racial no país. O malandro seria a figura do mulato brasileiro que dribla o preconceito e consegue uma certa ascensão social por meio de favores conquistados com ginga e simpatia.
Antes de Zé Carioca, as desventuras do personagem Macunaíma, de Mário de Andrade, lançado em 1928, já haviam revelado a essência malandra e mestiça do caráter nacional. Para o crítico Antônio Cândido, o primeiro malandro da nossa literatura teria nascido muito tempo antes, ainda no século 19, com o personagem Leonardo Pataca, do livro Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida.
Mas se a figura do malandro surge como uma estratégia criativa de sobrevivência para ex-escravos, descendentes de escravos, enfim, todos aqueles que não se transformaram em cidadãos logo após a abolição, como entender a malandragem presente também na elite nacional? O que faz com que o deputado Severino Cavalcanti, presidente da Câmara dos Deputados, em pleno século 21, faça a defesa do nepotismo – conseguindo empossar seu filho para um posto importante do governo, apesar de toda a indignação da opinião pública?
Em 1936, o historiador Sérgio Buarque de Holanda dedicou um dos capítulos do seu livro Raízes do Brasil ao estudo do chamado “homem cordial”, termo usado então para tentar explicar o caráter do brasileiro. Um dos traços do brasileiro cordial era, segundo o historiador, a propensão para sobrepor as relações familiares e pessoais às relações profissionais ou públicas. O brasileiro, de certa forma, tenderia a rejeitar a impessoalidade de sistemas administrativos em que o todo é mais importante do que o indivíduo. Daí a dificuldade de encontrar homens públicos que respeitem a separação entre o público e o privado e que ponham os interesses do Estado acima das amizades.
Para diversos pesquisadores, isso se explicaria pelo fato de que, durante boa parte da colonização do país, o Estado se confundia com a figura do senhor de engenho, do fazendeiro de café e, anteriormente, com os próprios donatários das capitanias hereditárias. Ou seja: a decisão sobre a vida e a morte de um escravo, por exemplo, era uma decisão de cunho tão privado como a escolha do mobiliário da fazenda pelo senhor e sua família, cuja autoridade estava acima de qualquer outra lei.
Talvez por isso, quando a amizade e o jeitinho não funcionam, é normal ouvir-se um ríspido e autoritário “Você sabe com quem está falando?”, como diz o antropólogo Roberto DaMatta.
Em seu livro Carnavais, Malandros e Heróis, o antropólogo descreve o dilema herdado pelo brasileiro. De um lado, nos submetemos a um sistema de leis impessoais cuja obediência nos países ricos nos causa inveja e admiração. Internamente, contudo, encaramos essas leis como uma espécie de estraga-prazeres – e os burocratas, sabendo disso, parecem muitas vezes aplicá-las para dificultar a vida do cidadão. De outro lado, existiria o sistema da nossa “rede de contatos”, em que impera o parentesco, a amizade ou qualquer ligação pessoal que drible a lei. Trocando em miúdos: a lei é vista – e muitas vezes aplicada – como um castigo e para fugir desse castigo vale a malandragem, o jeitinho.
Por que misturamos tudo
No início do século 20, o futuro parecia literalmente negro para os intelectuais brasileiros que sonhavam em reproduzir por aqui a civilização européia. E não era para menos. Se as teorias da época pregavam que a mistura de raças degradava o povo brasileiro, estava claro que a miscigenação era irreversível.
Os esforços de urbanização e saneamento falhavam em fazer das nossas cidades uma reprodução das capitais civilizadas do mundo. No Rio, por exemplo, os destroços dos velhos cortiços derrubados para a construção de grandes avenidas no estilo parisiense serviam de material para os sem-teto construírem moradias improvisadas nos morros, dando origem às primeiras favelas cariocas.
Qual a imagem que sobressairia do país? A urbanizada, branca, européia, ou a negra, favelada, africana?
“Foi a imagem do mulato que prevaleceu”, diz a antropóloga Lilia Schwarcz. De acordo com ela, isso ocorreu por vários motivos. O primeiro deles teria sido a aceitação, pelos pensadores do país, de que a presença africana em nossa formação era algo positivo. O marco dessa mudança de olhar teria aparecido com a publicação de Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, em 1933. Muito antes do advento da genética moderna, Freyre já escrevia que: “Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma e no corpo a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro.”
Na cultura, o movimento iniciado com a Semana de Arte Moderna de 1922 também já havia absorvido essa identidade mestiça na obra de artistas plásticos como Tarsila do Amaral e escritores como Mário de Andrade, o pai de Macunaíma. Só faltava mesmo o governo assumir que éramos, enfim, um país mestiço.
“Isso ocorreu com o advento do Estado Novo de Vargas, em 1937”, diz Lilia Schwarcz. “É quando a capoeira vira esporte nacional, o samba passa a ser a música brasileira por excelência e a feijoada, com o preto do feijão e o branco do arroz, o verde da couve e o amarelo da laranja, se torna o prato oficial do brasileiro.” Anos depois, a música Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, consagraria nossa identidade mestiça cantando as virtudes do nosso “mulato inzoneiro” para o mundo. A diversidade de raças, cultura e até mesmo de religião – em que outro país alguém pode ser um pouco católico, um pouco espírita e ter medo de encruzilhadas? – deixava de ser motivo de vergonha para se tornar motivo de orgulho, assim como os jogadores da seleção brasileira.

 Texto Rodrigo Cavalcante* Revista Super interessante


Análise do texto
O autor faz uma reflexão bem construída fundamentada em obras brasileiras de autores que tiveram papel  relevante na construção da identidade do povo brasileiro, assim como  Gilberto Freire, que num  momento histórico de extremo racismo, publicou sua obra "Casa Grande e Sensala", trazendo a importância da miscigenação para a construção da cultura nacional. Sergio Buarque de Holanda,  aborda  em sua obra "Raízes do Brasil", o caráter do povo brasileiro que, sobrepõe as relações pessoais e familiares às relações profissionais e administrativa, que segundo o autor, contribui para a pessoalidade nas relações entre  público e privado. E sob esses aspectos que a sociedade brasileira é construída, o negro como protagonista da imagem do malandro, que, segundo antropóloga  Lilia Schwarcz, essa ideia surge da questão racial no país, quando o negro consegue driblar o preconceito com sua ginga e simpatia, conquistando favores.

Malandragem brasileira!


a capoeira na  malandragem brasileira
Análise da música
A capoeira, hoje conhecida como esporte e expressão artística, já foi censurada, em virtude de sua origem africana, Angola, que era entendida como uma atividade desvalorizada, por está vinculada à cultura negra, e por isso se agregou a ideia de vagabundagem a essa prática. 
Compreende-se o surgimento da capoeira regional  como uma forma de "embranquecimento" da capoeira tradicional, por entender as modificações que ocorreram no decorrer de sua prática como esporte e arte, que vai se expandir para outros grupos sociais. (Alejandro Frigerio.Capoeira: de arte negra à esporte branco).
Essa mistura cultural, de luta e dança, foi apresentada por Gilberto Freyre, em sua obra "Casa Grande e Senzala" como um aspecto pluricultural do povo brasileiro que se manifestava através da transversalidade das culturas. Isso contribuiu para que, a cultura negra fosse vista por outra ótica, passando a  fazer parte da identidade do povo brasileiro.
Conclui-se que, a malandragem brasileira foi  também constituída com a capoeira, por se tratar de uma estratégia  de defesa contra os senhores de engenho, mas, que era uma atividade desenvolvida de forma disciplinada e articulada  na cultura negra também para expressar sua jinga e simpatia.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Mulher Brasileira


Mulher Brasileira

Benito Di Paula

Agora chegou a vez, vou cantar
Mulher brasileira em primeiro lugar
Agora chegou a vez, vou cantar
Mulher brasileira em primeiro lugar
Norte a sul do meu Brasil
Caminha sambando quem não viu
Mulher de verdade, sim, senhor
Mulher brasileira é feita de amor










                         















Análise da música:
A sensualidade da mulher brasileira faz parte da identidade nacional. Segundo Gilberto Freyre a miscigenação foi algo positivo para a nossa formação social. O carnaval e a mulata fazem parte da identidade brasileira.
A mulher brasileira é vista por outros países como símbolo sexual. A música de Benito Di Paula exalta a mulher brasileira de norte ao sul, com destaque para a mulata do carnaval com seu samba no pé.
Mas, apesar da mulher (mulata do carnaval) ser considerada identidade nacional, é vítima de racismo e preconceito na sociedade brasileira. Não só pelo fato de ser negra, mas pela sensualidade que é vista como falta de pudor e demonstração de vulgaridade pelos seguimentos mais conservadores e tradicionais da sociedade.

A mão da limpeza.

A mão da limpeza
Gilberto Gil



O branco inventou que o negro
Quando não suja na entrada
Vai sujar na saída, ê
Imagina só
Vai sujar na saída, ê
Imagina só
Que mentira danada, ê

Na verdade a mão escrava
Passava a vida limpando
O que o branco sujava, ê
Imagina só
O que o branco sujava, ê
Imagina só
O que o negro penava, ê

Mesmo depois de abolida a escravidão
Negra é a mão
De quem faz a limpeza
Lavando a roupa encardida, esfregando o chão
Negra é a mão
É a mão da pureza

Negra é a vida consumida ao pé do fogão
Negra é a mão
Nos preparando a mesa
Limpando as manchas do mundo com água e sabão
Negra é a mão
De imaculada nobreza

Na verdade a mão escrava
Passava a vida limpando
O que o branco sujava, ê
Imagina só
O que o branco sujava, ê
Imagina só
Eta branco sujão


Análise da música:


                                   A mão da limpeza
A música de Gilberto Gil, "A  mão da limpeza”, mostra a condição de preconceito e exclusão social em que vivem os negros que mesmo depois da abolição da escravidão na sociedade brasileira são tratados como seres inferiores e no mercado de trabalho ocupam o lugar subalterno, com menor renumeração.
A música faz uma crítica ao ditado popular racista, criado pelo branco que diz:” o negro quando não suja na entrada vai sujar na saída”. Na verdade, o que o branco considera sujo é a própria existência do negro, sua condição humana. 
Para Nina Rodrigues" o negro e o mestiço eram chagas da nossa nacionalidade e tinham tendência ao crime". Voltando a música, realmente os sujos são os brancos de corpo e alma com todas suas manchas no decorrer da história da civilização ao exterminar, escravizar e explorar povos.